O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está indo para a China, pois o líder de esquerda espera fortalecer os laços econômicos com o maior parceiro comercial do Brasil e restabelecer o papel da nação sul-americana na diplomacia global.

Lula postou fotos nas redes sociais na manhã desta terça-feira em frente a um avião na pista ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, dizendo que estava embarcando na viagem.

“Vamos consolidar nossa relação com a China”, disse o presidente brasileiro ao programa de rádio Voz do Brasil na véspera de sua partida.

“Eu vou convidar [Chinese President] Xi Jinping ao Brasil para uma reunião bilateral para lhe mostrar projetos para os quais queremos atrair investimentos chineses”, acrescentou, sem dar detalhes sobre quando ocorreria a possível visita de Xi.

A viagem de Lula à China, que foi adiada por causa de uma pneumonia, aconteceu cerca de dois meses depois que ele viajou a Washington, DC, para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

O líder brasileiro, cujo governo recentemente ultrapassou a marca de 100 dias, tem buscado restabelecer as relações do país com aliados, muitos dos quais foram testados sob seu antecessor de extrema-direita, Jair Bolsonaro.

Especialistas disseram que Lula também está tentando “esculpir … um papel distinto” para o Brasil na geopolítica global – mantendo laços com Washington, mas também com seus rivais, incluindo China e Rússia.

Lula deveria chegar à China na quarta-feira à frente de uma grande delegação formada por dezenas de representantes políticos, além de cerca de 240 empresários brasileiros.

Ele participará da cerimônia de posse na quinta-feira em Xangai da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, recentemente eleita para liderar o Novo Banco de Desenvolvimento do bloco econômico BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

E Lula se encontrará com seu homólogo chinês, Xi, em Pequim na sexta-feira.

“O fato de o presidente Lula da Silva liderar uma grande delegação à China em sua visita de Estado logo após sua recuperação mostra a grande importância que ambos os lados atribuem a esta visita e às nossas relações bilaterais”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, durante uma coletiva de imprensa na terça-feira.

“A China está pronta para trabalhar em conjunto com o lado brasileiro e aproveitar esta visita como uma oportunidade para atualizar nossa cooperação amigável e mutuamente benéfica em vários setores e trazer mais energia positiva para a solidariedade, cooperação e resposta conjunta dos países em desenvolvimento aos desafios globais.”

Laços tensos sob Bolsonaro

Os laços Brasil-China foram tensos sob o ex-presidente brasileiro Bolsonaro, que venceu a eleição do país em 2018 depois de fazer campanha com retórica anti-China.

Durante seu mandato, Bolsonaro também apoiou firmemente os Estados Unidos sob o comando do ex-presidente Donald Trump, que fez da competição dos EUA com a China um pilar fundamental de sua política externa.

“Essa dinâmica de confronto é um afastamento marcante da tendência histórica nas relações Brasil-China, que tende a relações econômicas e políticas mais profundas”, escreveu Harold Trinkunas, vice-diretor do Centro de Segurança e Cooperação Internacional da Universidade de Stanford, em 2020 sobre as tensões da época.

No entanto, Trinkunas destacou que “a China tem interesse de longo prazo em uma relação diplomática estreita com o Brasil, importante tanto para sua estratégia na América Latina quanto para maximizar sua liderança global”.

E o Brasil também “tem importantes interesses estratégicos de longo prazo em manter uma parceria de trabalho com a China”, acrescentou.

De fato, o comércio bilateral entre a China e o Brasil totalizou US$ 150 bilhões em 2022 – um aumento de 10,1% em comparação com o ano anterior, escreveram Ailsa Rosales e Alejandro Duran Carrete, analistas da S&P Global Market Intelligence, em nota informativa em 6 de abril.

O Brasil exporta principalmente minério de ferro, soja e petróleo bruto para a China, enquanto os dispositivos semicondutores representam a maior parcela das exportações chinesas para o mercado brasileiro, segundo dados compilados pelo Observatório da Complexidade Econômica.

No início deste ano, a China e o Brasil também se moveram para reduzir o domínio do dólar, assinando um acordo sobre a criação de acordos de compensação de yuans que facilitariam o comércio e o investimento bilaterais – um reflexo dos laços crescentes.

As negociações durante a viagem de Lula à China também devem “abranger a cooperação estatal, incluindo o fortalecimento do compartilhamento de conhecimento tecnológico e a construção de um satélite para apoiar a conservação da Amazônia”, disseram Rosales e Duran Carrete, da S&P.

“É provável que as relações China-Brasil continuem sendo um componente-chave da política externa do presidente Xi, que enfatizou a segurança de rotas comerciais e a construção de alianças estratégicas com economias emergentes por meio de iniciativas de assinatura como a Iniciativa do Cinturão e Rota, da qual o Brasil ainda não é um membro formal membro e a Iniciativa de Desenvolvimento Global”, escreveram eles.

Guerra na Ucrânia

Enquanto isso, Lula disse que também planeja sugerir a mediação de negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia durante seu encontro com Xi na sexta-feira. Entre os líderes ocidentais, a proposta só foi bem recebida pelo presidente francês, Emmanuel Macron, até agora.

“Estou convencido de que tanto a Ucrânia quanto a Rússia estão esperando que alguém diga: ‘Vamos sentar e conversar’”, disse Lula a repórteres na semana passada.

Ele sugeriu que uma solução poderia ser a devolução do território recém-invadido, embora não a Crimeia – uma opção que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, rejeitou totalmente.

“Lula sabe que a China é o único país que a Rússia vai ouvir”, disse um diplomata europeu em Brasília à agência de notícias Reuters sob condição de anonimato.

“As pessoas estão esperando para ver se ele recebe alguma força de outros países, como França e Alemanha.”

Fonte: www.aljazeera.com

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