A Casa dos Sindicatos em Odessa, Ucrânia, pega fogo em 2 de maio de 2014.

Este artigo faz parte do Série do 100º aniversário do People’s World.

Em 2 de maio de 2014, forças de milícias fascistas fortemente armadas atacaram a Casa dos Sindicatos em Odessa, na Ucrânia. Presos lá dentro estavam manifestantes que se opunham ao governo de direita em Kiev, que havia sido instituído por um golpe orquestrado pelos EUA poucas semanas antes.

O novo governo foi estabelecido na sequência dos protestos “Euromaidan” de Fevereiro de 2014, que derrubaram a administração corrupta, embora democraticamente eleita, do Presidente Viktor Yanukovych. Tentando jogar a Rússia e a UE uma contra a outra para conseguir o melhor acordo económico para a Ucrânia quando estava no comando, Yanukovych tornou-se alvo de interesses empresariais apoiados pelo Ocidente na Ucrânia e de grupos ultranacionalistas. Este último uniu-se, com o apoio dos EUA, para levar a cabo um golpe de Estado e enviou Yanukovych para correr para Moscovo.

Na sequência desse golpe, sindicatos e partidos de esquerda foram severamente reprimidos na Ucrânia, e activistas do Partido Comunista da Ucrânia e de outros grupos foram subterrâneo forçado. Em todo o país, foi lançada uma campanha de eliminação étnica contra os ucranianos de língua russa, tendo a língua russa sido banida da vida pública.

Nas regiões predominantemente russas do leste da Ucrânia, ocorreu uma guerra violenta entre o governo de Kiev e os separatistas. No final de 2021, já havia ceifado mais de 15.000 vidas. Comandantes de grupos abertamente neonazistas e fascistas como o Batalhão Azov foram integrados para se tornarem brigadas das Forças Armadas Ucranianas oficiais e receberam rédea solta no Donbass.

Assim, quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou aos seus militares que invadissem a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, a guerra já durava há anos no leste da Ucrânia. As possibilidades de paz – tanto antes como depois da invasão – foram repetidamente frustradas, muitas vezes por insistência dos aliados de Kiev em Washington.

O massacre sindical de Odessa foi uma das primeiras de muitas atrocidades cometidas na guerra na Ucrânia. A milícia do Setor Direita celebrou o assassinato em massa ocorrido naquele dia, chamando-o de “mais uma página brilhante na história da nossa pátria”. Nenhum dos perpetradores foi levado à justiça e alguns dos coordenadores do massacre acabaram mesmo por se tornar membros do parlamento.

O artigo abaixo, de John Wojcik, apareceu no People’s World logo após o ataque. Conforme relata o artigo, acreditava-se que o número de mortos era de 39 na época; mais tarde foi confirmado que era 48.

Grande parte da mídia ocidental ignorou o massacre ou culpou as próprias vítimas por atearem o incêndio que as matou e é um dos artigos mais lidos do People’s World da última década.

Direitas ucranianos queimam vivos 39 pessoas em edifício sindical de Odessa
Por John Wojcik
Mundo das Pessoas | 5 de maio de 2014

Cerca de 1.000 direitistas ucranianos, liderados pelo notório Sector Direita, cercaram, invadiram e queimaram a Casa dos Sindicatos em Odessa na sexta-feira passada, matando 39 manifestantes pró-Rússia no edifício.

A caminho do ataque ao salão sindical, ocupado por manifestantes anti-governo de Kiev que temiam pelas suas vidas, os direitistas recrutaram membros de um clube de futebol ucraniano, os Chernomorets, de acordo com numerosos relatos na imprensa europeia e online.

Muitos dos que atacaram e queimaram o edifício usavam suásticas e outras insígnias fascistas, segundo observadores. Testemunhas oculares disseram que os fascistas estavam armados com bastões, escudos e correntes de metal e que as pessoas dentro do sindicato correram para lá para se protegerem deles. Após o ataque dos direitistas, as ruas em redor da sede do sindicato teriam ficado manchadas com o sangue daqueles que saltaram das janelas para escapar às chamas.

Mulheres e crianças estariam entre as pessoas queimadas vivas depois que as primeiras rodadas de tiros e coquetéis molotov foram jogados no prédio pelos direitistas.

Aqueles que queimaram a sede do sindicato já tinham incendiado outro acampamento pró-Rússia em Odessa. Esse acampamento consistia em fileiras de tendas na Praça Kulikova Field, em Odessa.

A polícia disse que muitas das vítimas na Casa dos Sindicatos morreram sufocadas antes de serem queimadas. A maioria das vítimas foi encontrada morta no chão, mas algumas pularam das janelas, segundo a polícia.

Enquanto o salão sindical estava em chamas, fotos postadas no Twitter mostravam pessoas penduradas nas janelas e sentadas nos parapeitos das janelas, onde pareciam estar se preparando para pular.

De acordo com numerosos relatos, aqueles que saltaram e sobreviveram foram cercados e espancados por direitistas, incluindo membros da equipa de futebol.

Os vídeos e fotos mostraram a polícia de choque ucraniana parada, sem fazer nada para impedir ou impedir a violência. A polícia ucraniana disse que não podia fazer nada porque estava “desarmada”.

O Right Sector vangloriou-se do seu papel nos assassinatos online e no YouTube:

“Primeiro atravessamos pela lateral e depois passamos pela entrada principal”, disse um direitista pró-Kiev que se identificou como membro do grupo.

Enquanto o edifício ardia, alguns dos activistas pró-Kiev disseram no Twitter que “os besouros do Colorado estão a ser assados ​​em Odessa”, usando um termo depreciativo para as fitas de São Jorge usadas por muitos dos manifestantes anti-governo de Kiev.

Havia poucos meios de comunicação oficiais presentes, daí a forte dependência das redes sociais transmitidas ao vivo.

“O objectivo é livrar completamente Odessa dos pró-russos”, disse Dmitry Rogovsky, outro activista do Sector Direita cuja mão foi ferida durante os combates.

O aumento da violência por parte dos direitistas é um embaraço crescente para os EUA e para a União Europeia, que apoiaram o golpe de direita em Kiev e tentaram atribuir a culpa pelos problemas da Ucrânia à Rússia.

Os círculos dirigentes desses países esperavam usar o governo golpista para impor à Ucrânia um programa de austeridade concebido pelo FMI. Contudo, se os direitistas continuarem a envergonhar o Ocidente, os planos dos EUA, da UE e do FMI para a Ucrânia poderão correr mal.

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CONTRIBUINTE

John Wojcik


Fonte: www.peoplesworld.org

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