Uma súplica por Simón Trinidad – People’s World

O título lembra o título de Henry David Thoreau ensaio “Um apelo ao capitão John Brown.” Trinidad, como John Brown, é notável por sua resolução implacável e consideração pela justiça.

Trinidad tinha 58 anos quando um tribunal dos Estados Unidos o condenou a 60 anos de prisão em 2008. Seu suposto crime foi o de conspiração para manter como reféns três empreiteiros estadunidenses da guerra às drogas que operam na Colômbia. Ele está cumprindo uma sentença de prisão perpétua e não teve nada a ver com a tomada de reféns.

Os empreiteiros, capturados em 2003, foram libertados em 2008. A “guerra às drogas” dos EUA na Colômbia obscureceu o grande papel dos EUA na guerra da Colômbia contra insurgentes de esquerda, principalmente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Simón Trinidad era um líder das FARC. As FARC e o governo da Colômbia assinaram um acordo de paz em 2016, e Trinidad e outros ex-combatentes esperavam fazer parte de um processo de paz. Agora, ele é um prisioneiro em uma prisão máxima nos Estados Unidos e está confinado em sua cela por quase duas horas por dia, não recebe correspondência e tem poucas visitas.

Em 27 de julho, Simón Trinidad pela primeira vez foi destaque no noticiário da Colômbia. Uma carta sem data que ele escreveu ao chanceler colombiano Álvaro Leyva solicitando a repatriação para a Colômbia apareceu nas redes sociais. Os noticiários o reproduziam.

Observadores associaram a carta de Trinidad ao anúncio do governo dos Estados Unidos na véspera de que o sanguinário ex-chefe paramilitar Salvatore Mancuso, também preso nos Estados Unidos, em breve seria extraditado para a Colômbia. O presidente Gustavo Petro designou Mancuso como um “promotor da paz”.

Trinidad, não tão favorecido como este, em sua carta escreveu sobre sua determinação de testemunhar perante a Jurisdição Especial para a Paz, como outros ex-combatentes das FARC fizeram, e também Mancuso, virtualmente. Este tribunal, instituído no âmbito do Acordo de Paz de 2016, oferece aos ex-combatentes a oportunidade de dizerem a verdade sobre os crimes que possam ter cometido durante a guerra civil e, caso o façam, serem indultados ou punidos.

Trinidad aparentemente espera não apenas que o chanceler Leyva informe o secretário de Estado dos EUA sobre seu pedido de repatriação, mas também que sua mensagem seja repassada ao presidente Joe Biden, que tem o poder de libertá-lo da prisão.

O senador colombiano progressista Iván Cepeda, “uma das pessoas que fala de paz em nome do presidente Gustavo Petro”, saudou “a proposta de Simón Trinidad [and] enviou diretamente ao chanceler Álvaro Leyva”, informou a imprensa colombiana.

Trinidad juntou-se à coalizão eleitoral de esquerda União Patriótica (UP) depois que ela foi formada em 1985. Um ano depois, os paramilitares começaram seu massacre de partidários da UP que, com impunidade do governo da Colômbia, durou anos. Em resposta, Trinidad em 1987 juntou-se às FARC e, no processo, abandonou seu nome Ricardo Palmera Pineda. Para as FARC, Trinidad era responsável pela educação política e propaganda e era um negociador.

Em 2000, o governo dos Estados Unidos apresentou seu “Plano Colômbia”, por meio do qual os militares colombianos obtiveram armas e assistência de treinamento dos Estados Unidos; Tropas dos EUA e empreiteiros militares foram implantados na Colômbia. O surgimento do Plano Colômbia condenou as negociações de paz entre as FARC e o governo colombiano que estavam em andamento na época.

Como um dos principais negociadores das FARC nessas negociações, Simón Trinidad tornou-se conhecido dos observadores internacionais. Seu percurso nas FARC terminou abruptamente em 2 de janeiro de 2004, quando militares colombianos e a CIA o prenderam em Quito. Trinidad estava lá buscando ajuda da ONU para uma proposta de troca de prisioneiros.

O governo da Colômbia extraditou Trinidad para os Estados Unidos na véspera de Ano Novo de 2004. De acordo com seu advogado americano, Mark Burton, os captores americanos de Trinidad o consideravam um “prisioneiro troféu”.

Os manipuladores de Trinidad nos Estados Unidos tiveram que realizar quatro julgamentos para finalmente obter uma condenação. Sua captura e várias aparições em tribunais dos EUA de 2005 a 2008 serviram como publicidade em tempo real que atestava o compromisso dos EUA com os esforços anti-insurgência e a guerra às drogas na Colômbia.

O infortúnio de Trinidad foi cair nas garras de uma nação cujo histórico de prisioneiros é terrível. Afinal, “os Estados Unidos estão sozinhos como a única nação que condena pessoas à prisão perpétua sem liberdade condicional por crimes cometidos antes de completar 18 anos”. (Não é de admirar: de 196 países, apenas os Estados Unidos ainda não ratificaram a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança.)

Como prisioneiro político nos Estados Unidos, Simón Trinidad remonta aos Scottsboro Nine, jovens negros no Alabama que enfrentaram penas de morte na década de 1930 por acusações racistas forjadas; aos membros do Partido Comunista presos sob a Lei Smith; e aos membros do Partido dos Panteras Negras envolvidos no projeto COINTELPRO do governo dos Estados Unidos.

Simón Trinidad também é representante dos prisioneiros reunidos nas guerras dos Estados Unidos e outras intervenções no exterior. Eles incluem: Ricardo Flores Magón, um revolucionário mexicano que morreu na Prisão Federal de Leavenworth em 1922; os prisioneiros “Cinco cubanos” que resistiram ao terrorismo e às hostilidades dos Estados Unidos contra seu país; e os infelizes que acabaram na prisão dos EUA em Guantánamo durante e após a Guerra do Iraque.

Apesar do Acordo de Paz na Colômbia, paramilitares ou outros bandidos já mataram quase 400 ex-combatentes das FARC; 300 prisioneiros de guerra das FARC ainda estão na prisão quase sete anos depois.

A violência no campo persiste. Os militares da Colômbia não conseguem ou não querem suprimir uma nova geração de paramilitares. Um relatório destaca a “relação simbiótica dos paramilitares com atores estatais colombianos”. Documentos desclassificados do Departamento de Estado e da CIA dos Arquivos de Segurança Nacional da Universidade George Washington dizem o mesmo.

A trama se complica: o estreito relacionamento entre os militares dos EUA e da Colômbia e a aliança dos EUA com o governo da Colômbia sugerem a cumplicidade dos EUA com a violência que o Exército e o estado da Colômbia não conseguem ou não querem controlar.

A má notícia para Simón Trinidad é que o governo dos Estados Unidos aposta não na paz na Colômbia, mas na continuação da guerra. Por isso, Simón Trinidad enfrenta barreiras formidáveis ​​para satisfazer sua necessidade de ingressar no processo de paz da Colômbia.

As palavras de Mark Burton encerram este relatório: “Simón Trinidad é um homem com uma visão clara para uma nova Colômbia, uma Colômbia em paz e com justiça social. A Colômbia precisa ouvir sua voz, sua visão, suas propostas de paz. Sua prisão contínua nos Estados Unidos sob acusações falsas é um insulto à Colômbia, sua história e seu povo”.

Os comentários de Burton aparecem em um novo e-book notável, acessível aqui. Ele contém comentários, em espanhol, de ativistas, escritores e intelectuais que buscam a repatriação de Trinidad. O anúncio deste livro oferece uma apresentação em vídeo, aqui, de reflexões e material documental.

Como acontece com todos os artigos de opinião publicados pela People’s World, este artigo reflete as opiniões de seu autor.

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