Os líderes de oito nações sul-americanas que abrigam a Amazônia se reuniram em uma cúpula de dois dias terminada na quarta-feira na cidade brasileira de Belém, com a tarefa de acordar uma lista de políticas e medidas ambientais unificadas para fortalecer a cooperação regional e parar a destruição da floresta tropical.

A cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) adotou o que o país anfitrião, o Brasil, chamou de “uma nova e ambiciosa agenda compartilhada” para salvar a floresta tropical, um amortecedor crucial contra a mudança climática que os especialistas alertam que está à beira do colapso.

Alguns cientistas dizem que quando 20 a 25% da floresta for destruída, as chuvas diminuirão drasticamente, transformando mais da metade da floresta tropical em savana tropical, com imensa perda de biodiversidade.

Aqui está o que você precisa saber:

Quais países são membros da OTCA?

Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela são membros da organização.

O que foi acordado na cimeira?

A declaração conjunta final, chamada de Declaração de Belém, criou uma aliança para combater a destruição da floresta, com os países deixados para perseguir suas metas individuais de desmatamento.

O roteiro de quase 10.000 palavras afirmava os direitos e proteções indígenas, ao mesmo tempo em que concordava em cooperar na gestão da água, saúde, posições de negociação comuns em cúpulas climáticas e desenvolvimento sustentável.

A declaração também estabeleceu um corpo científico para se reunir anualmente e produzir relatórios oficiais sobre a ciência relacionada à floresta amazônica, semelhante ao Painel Internacional das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Mas a cúpula não atendeu às demandas mais ousadas de ambientalistas e grupos indígenas, inclusive para que todos os países membros adotem a promessa do Brasil de acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e a promessa da Colômbia de interromper a nova exploração de petróleo.

Também não fixou um prazo para acabar com a mineração ilegal de ouro, embora os líderes concordassem em cooperar na questão e não incluíssem compromissos compartilhados de desmatamento zero até 2030.

Quais são os pontos de discórdia?

As tensões surgiram na preparação para a cúpula em torno de posições divergentes sobre desmatamento e desenvolvimento de petróleo.

Os governos têm historicamente visto a Amazônia como uma área a ser colonizada e explorada, com pouca consideração pela sustentabilidade ou pelos direitos de seus povos indígenas.

Outros países amazônicos rejeitaram a campanha contínua do presidente esquerdista da Colômbia, Gustavo Petro, para acabar com o novo desenvolvimento de petróleo na Amazônia.

“Uma selva que extrai petróleo – é possível manter uma linha política nesse nível? Apostar na morte e destruir a vida? Petro disse.

Ele disse que a ideia de fazer uma “transição energética” gradual para longe dos combustíveis fósseis era uma forma de atrasar o trabalho necessário para deter a mudança climática e comparou o desejo da esquerda de continuar perfurando petróleo à negação da ciência climática pela direita.

Ele também falou sobre encontrar maneiras de reflorestar pastagens e plantações, que cobrem grande parte do coração do Brasil para a pecuária e cultivo de soja.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que se apresentou como um líder ambiental no cenário internacional, absteve-se de tomar uma posição definitiva sobre o petróleo, citando a decisão como uma questão técnica.

O Brasil está avaliando se deve desenvolver uma descoberta de petróleo offshore potencialmente enorme perto da foz do rio Amazonas e da costa norte do país, que é dominada pela floresta tropical.

“O que estamos discutindo no Brasil hoje é a pesquisa de uma área extensa e grande – na minha visão, talvez a última fronteira de petróleo e gás antes … da transição energética”, disse o ministro da Energia do Brasil, Alexandre Silveira, a repórteres após o discurso de Petro.

Que críticas foram feitas sobre a cúpula?

Os críticos dizem que o fracasso dos oito países amazônicos em chegar a um acordo mais abrangente para proteger suas próprias florestas aponta para as maiores dificuldades globais de forjar um acordo para combater a mudança climática. Muitos cientistas dizem que os formuladores de políticas estão agindo muito lentamente para evitar o aquecimento global catastrófico.

A cooperação transfronteiriça tem sido historicamente escassa, prejudicada pela baixa confiança, diferenças ideológicas e falta de presença do governo.

Membros da OTCA – reunidos apenas pela quarta vez na existência do grupo – demonstraram na terça-feira que não estão totalmente alinhados em questões-chave. Esta semana marca a primeira reunião da organização de 45 anos em 14 anos.

Os compromissos de proteção florestal foram desiguais anteriormente e pareceram permanecer assim na cúpula.

Qual é o próximo?

Todos os países da cúpula ratificaram o acordo climático de Paris, que exige que os signatários estabeleçam metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Lula disse que espera que o documento seja um chamado às armas compartilhado na conferência do clima COP 28 em novembro.

Compartilhar uma voz unida pode ajudar os países amazônicos a afirmar sua posição no cenário global antes da conferência da COP.

“A Amazônia é o nosso passaporte para uma nova relação com o mundo, uma relação mais simétrica, em que nossos recursos não sejam explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos”, disse Lula.

A cúpula é uma espécie de ensaio geral para as negociações climáticas da ONU em 2025, que Belém sediará.

Os líderes pediram às nações ricas que ajudassem a financiar os esforços para proteger a Amazônia, uma vez que a floresta é um sumidouro vital de carbono, lar de cerca de 10% da biodiversidade da Terra.

O Petro da Colômbia argumentou que as nações ricas deveriam trocar a dívida externa devida pelos países amazônicos pela ação climática, dizendo que isso criaria investimento suficiente para alimentar a economia da região amazônica.

O presidente boliviano, Luis Arce, disse que a Amazônia foi vítima do capitalismo, refletido na expansão desenfreada das fronteiras agrícolas e na exploração de recursos naturais. Ele observou que as nações industrializadas são responsáveis ​​pela maior parte das emissões históricas de gases de efeito estufa.

“O fato de a Amazônia ser um território tão importante não significa que todas as responsabilidades, consequências e efeitos da crise climática devam recair sobre nós, nossos municípios e nossas economias”, disse Arce.

Fonte: www.aljazeera.com

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