A ordem do Supremo Tribunal Federal faz parte de uma investigação sobre os distúrbios de 8 de janeiro que levaram apoiadores de Bolsonaro a invadir prédios do governo.

Um juiz da Suprema Corte do Brasil ordenou que o ex-presidente Jair Bolsonaro testemunhasse em 10 dias sobre a invasão de prédios importantes do governo na capital do país por uma multidão de seus apoiadores no início deste ano.

O ministro Alexandre de Moraes acatou nesta sexta-feira um pedido do principal procurador do país, que disse que o depoimento de Bolsonaro foi uma medida “indispensável” para poder esclarecer o que aconteceu em 8 de janeiro em Brasília.

“Defiro o pedido feito pelo Procurador-Geral da República e ordeno à Polícia Federal que proceda à audiência de Jair Messias Bolsonaro”, escreveu Moraes, que também dirige a autoridade eleitoral do Brasil, no despacho.

Bolsonaro enfrentou meses de críticas e questionamentos sobre seu suposto papel nos distúrbios, que viram milhares de seus apoiadores saquearem o Congresso, o Supremo Tribunal e o palácio presidencial do Brasil.

Alguns manifestantes esperavam instigar um golpe militar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou Bolsonaro por pouco nas eleições de outubro de 2022 e tomou posse poucos dias antes do ataque às instituições estatais do Brasil.

Bolsonaro negou qualquer responsabilidade pelos distúrbios, que relembraram a invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 2021 por partidários do ex-presidente Donald Trump, a quem o ex-presidente brasileiro havia imitado.

O ex-capitão do exército de extrema-direita argumentou que estava fora do país em exílio auto-imposto na Flórida, para onde voou dois dias antes do fim de seu mandato, depois de não admitir publicamente a derrota para Lula.

Mas mesmo antes de sua derrota eleitoral, Bolsonaro começou a espalhar rumores infundados sobre a legitimidade do voto, questionando se o sistema de votação eletrônica do Brasil – usado por quase um quarto de século – era vulnerável a fraudes.

Após sua derrota, seus aliados políticos também apresentaram uma denúncia ao Tribunal Superior Eleitoral na tentativa de invalidar cédulas processadas em algumas urnas eletrônicas, alegando “falhas graves” e “mau funcionamento”. Seu esforço foi rejeitado.

Ainda assim, as falsas alegações de fraude eleitoral de Bolsonaro estimularam muitos de seus apoiadores a protestar.

Caminhoneiros – um importante eleitorado de Bolsonaro – bloquearam centenas de estradas nos dias seguintes à eleição, enquanto outros formaram acampamentos perto de quartéis militares, pedindo ao exército que interviesse em nome do ex-presidente.

No dia 8 de janeiro, uma semana após a posse de Lula, as tensões aumentaram, com centenas de apoiadores de Bolsonaro marchando na Praça dos Três Poderes em uma aparente tentativa de atrapalhar a transferência de poder.

Os manifestantes quebraram janelas, entraram em confronto com a polícia e vandalizaram os prédios do governo.

Apoiadores de Bolsonaro invadiram prédios do governo em 8 de janeiro de 2023, em Brasília [File: Adriano Machado/Reuters]

Lula, desde então, acusou Bolsonaro de planejar a violência. “Tenho certeza de que Bolsonaro participou ativamente disso e ainda está tentando participar”, disse à RedeTV! na esteira da violência, chamando-a de tentativa de “golpe”.

Centenas de manifestantes foram presos nos dias após o ataque e Bolsonaro e outros funcionários foram examinados por seus supostos papéis.

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, Anderson Torres, que comandava a segurança em Brasília na época do ataque, foi preso sob suspeita de “omissão” e “conivência”.

A polícia também revistou as casas e escritórios de várias outras pessoas, incluindo o sobrinho de Bolsonaro, Leonardo Rodrigues de Jesus.

As buscas visam identificar aqueles “que participaram, financiaram ou fomentaram” os protestos antidemocráticos, segundo as autoridades.

Bolsonaro, que voltou ao Brasil no final do mês passado, enfrenta uma série de investigações além da investigação de 8 de janeiro.

Entre eles está uma investigação sobre conjuntos de joias, avaliados em mais de US$ 3,2 milhões, supostamente trazidos da Arábia Saudita para o Brasil por membros do governo anterior de Bolsonaro sem documentação ou declarações adequadas.

Fonte: www.aljazeera.com

Deixe uma resposta