Mulheres canadenses lutam para tornar realidade a promessa de creche de US$ 10 por dia do governo – People’s World

TORONTO—Pergunte a qualquer um no movimento de mulheres o que eles acreditam ser o programa mais importante para garantir a igualdade das mulheres e, na maioria das vezes, eles responderão: “creche”. É por isso que o anúncio do governo federal canadense de que introduzirá cuidados infantis de $ 10 por dia há quase dois anos encantou aqueles que lutam por uma política e um programa de cuidados infantis em todo o Canadá há mais de meio século.

Então, onde está o país agora quando se trata de implementar essa promessa feita pelo primeiro-ministro do Partido Liberal, Justin Trudeau?

Em seu acordo com o governo federal em março de 2022, Ontário se comprometeu a criar 86.000 novas vagas por US$ 10 por dia. O governo provincial conservador do primeiro-ministro Doug Ford diz que faltam 50.000 vagas para cumprir essa meta, mas o Escritório de Responsabilidade Financeira de Ontário calcula que o número total de vagas necessárias é, na verdade, 220.000.

O fator mais importante, juntamente com o aumento das vagas de creche por US$ 10 por dia, é a garantia de um sistema de creche público, sem fins lucrativos e de qualidade. Ontário, juntamente com governos de direita em algumas outras províncias canadenses, está fazendo o possível para impedir a expansão de um sistema público em favor de fornecer oportunidades para seus amigos corporativos sugarem os lucros do cuidado de crianças.

Em agosto de 2022, a Associação de Creches Independentes de Ontário, que representa 300 proprietários de creches com fins lucrativos em toda a província, reuniu-se com o Ministro da Educação, Stephen Lecce, responsável pela implementação do programa nacional de creches na província. A OAICC comemorou os compromissos que conseguiu obter nesta reunião: as restrições a “lucros indevidos” foram retiradas e uma lista de “despesas inelegíveis”, que impediriam as operadoras de usar dinheiro público para financiar suas hipotecas ou pagar bônus executivos.

Ontário é uma das quatro províncias autorizadas a usar o dinheiro federal para criar novos espaços com fins lucrativos e maximizou o número total de espaços com fins lucrativos que serão criados em 25.000. O governo da Ford provavelmente pressionaria por mais, mas pelo limite de 30% do governo federal para espaços com fins lucrativos.

Tomemos o exemplo da Lullaboo Nursery and Childcare Center Inc., uma organização sem fins lucrativos fundada em 2008. Conforme relatado por Chris Hannay no Toronto’s globo e correio jornal, a Lullaboo acelerou suas aquisições de ex-organizações sem fins lucrativos ao mesmo tempo em que o governo federal anunciou o compromisso com o programa federal de cuidados infantis acessíveis.

Eles se comprometeram a abrir 25 novos locais até 2025. Seu modus operandi? Corte os salários dos funcionários de volta ao salário mínimo. Este parece ser o caso da maioria das instituições com fins lucrativos – dos 25% dos trabalhadores de creches que ganham apenas um salário mínimo, a maioria trabalha em instalações com fins lucrativos. Coincidentemente, as organizações com fins lucrativos representam 30% dos espaços licenciados para crianças menores de seis anos em Ontário.

O que é necessário – em Ontário e em todo o país – é uma expansão massiva da infraestrutura de propriedade pública e fornecida publicamente, composta por trabalhadores treinados que recebem bons salários e benefícios em um ambiente sindicalizado.

Os cuidados infantis são importantes para o desenvolvimento das crianças e absolutamente essenciais para a igualdade das mulheres. Deve ser fornecido gratuitamente e disponibilizado universalmente com base na necessidade em todas as comunidades, incluindo atendimento 24 horas por dia para trabalhadores em turnos e emergências familiares.

Embora a infraestrutura de propriedade pública seja fundamental, expandir o atendimento infantil para atender às necessidades sociais também envolve serviços domiciliares. O governo divulga esse setor como fundamental para atender à cota de novos espaços necessários, pois provedores de cuidados infantis domiciliares podem ser adicionados sem aumentar os custos de capital.

Mas, na verdade, os governos conservador e liberal dão prioridade aos serviços domiciliares como forma de desviar a atenção e o financiamento de centros públicos sem fins lucrativos.

Em Quebec, que introduziu cuidados infantis universais de US$ 5 por dia em 1997 (agora US$ 10 por dia), uma grande parte do serviço é domiciliar, com cerca de 12.000 casas que cuidam de seis a nove crianças todos os dias. O governo colhe o benefício dessas milhares de mulheres individuais (elas são quase exclusivamente dirigidas por mulheres) fornecendo creches com financiamento público para cerca de 40.000 crianças, sem ter que fornecer nenhuma infraestrutura.

A situação levou a uma greve de mais de 13.000 cuidadoras domésticas sindicalizadas em setembro de 2020, exigindo melhores salários e condições de trabalho.

É uma ironia perversa que os políticos capitalistas procurem expandir o atendimento infantil universal nas costas de trabalhadoras mal pagas. Isso não deve ser permitido. Existem agências sindicalizadas de cuidados infantis domiciliares, como o Macauley Child Development Centre, que fornecem suporte ideal para provedores e pagam um salário mais alto do que provedores domésticos com fins lucrativos ou licenciados individualmente.

Qualquer expansão no campo de cuidados infantis domiciliares deve vir com apoios e aumentos salariais e uma campanha agressiva para favorecer as agências sindicalizadas.

A falta de retenção de trabalhadores devido ao pagamento inadequado é outra grande preocupação dos defensores dos cuidados infantis em todo o Canadá. Como vimos após o Projeto de Lei 24 em Ontário, que limitou os aumentos de salários e benefícios para enfermeiros (e trabalhadores do setor público em geral) em 1% durante a pandemia, salários mais baixos coincidiram com uma força de trabalho mais transitória e mais trabalhadores saindo da força de trabalho , o que interrompe todo o sistema.

No caso da Lullaboo, uma vez que os salários foram reduzidos para o salário mínimo, 16 de seus 19 funcionários em uma instalação pediram demissão.

O acordo federal de assistência infantil também resultará em mais dinheiro sendo canalizado para operadoras privadas. O financiamento federal subsidia metade do que os pais estavam pagando em 27 de março de 2022, quando o acordo foi assinado. Os operadores comerciais tendem a ter taxas mais altas do que as organizações sem fins lucrativos. Como resultado, mais dinheiro será destinado às organizações sem fins lucrativos em Ontário do que em qualquer outra província. Os pagamentos retirarão dinheiro que seria melhor usado para expandir os espaços sem fins lucrativos em geral.

Uma resposta para bloquear a explosão das instituições com fins lucrativos é lutar pela expansão das creches geridas pelos municípios. Em Toronto, o CUPE Local 79 representa os trabalhadores de cuidados infantis nos 45 centros da cidade. Eles são os trabalhadores mais bem pagos do setor, e outros centros sindicalizados usam os salários da cidade como alvo para negociar todos os contratos.

Russell Township, a sudeste de Ottawa, assumiu recentemente as 186 vagas de uma creche privada que fechou durante a pandemia. Além disso, eles aprovaram um aumento salarial de 20% para a equipe de cuidados infantis para tentar recrutar e reter educadores.

De acordo com Morna Ballantyne, diretora executiva do grupo de defesa Child Care Now, “os municípios devem se envolver mais na prestação direta de cuidados infantis, estabelecendo centros onde são mais necessários”. Um sistema sustentável de cuidados infantis pode ser garantido se outros municípios seguirem o exemplo de Russell Township.

Ainda há muito pelo que lutar na expansão de um sistema universal de cuidados infantis mais acessível em todo o Canadá. Devemos continuar a defender creches públicas, sindicalizadas e de qualidade e lutar contra qualquer privatização no setor.

Assim como as casas de repouso, a motivação do lucro deve ser eliminada para esses serviços públicos vitais. Não deve haver lucros com a qualidade dos cuidados prestados aos membros mais jovens ou mais velhos da sociedade.

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