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| Psicopatia. Imagem por supervennix de Pixabay |
Traços de personalidade patológicos estão associados a visões prejudiciais, de acordo com novas pesquisas publicadas em Personalidade e Diferenças Individuais. As descobertas indicam que pessoas com estilos interpessoais calejados, enganosos e manipuladores são mais propensas a endossar o autoritarismo de direita e a expressar atitudes hostis em relação a grupos marginalizados.
“Meu interesse na relação entre traços patológicos de personalidade, tais como os capturados pela psicopatia, e tendências prejudiciais originaram-se de minhas experiências de trabalho com infratores no sistema correcional do Arizona antes da pós-graduação”, disse o autor do estudo Sandeep Roy, candidato ao doutorado em psicologia clínica na Universidade do Norte do Texas.
“Notei que os infratores que eram elevados em propensões psicopáticas, como medido pela Psicopatia Checklist-Revised (PCL-R; Hare, 2003), frequentemente usavam epítetos raciais para denegrir a mim e a outros funcionários. Quando comecei a estudar mais este distúrbio de personalidade em minha formação de pós-graduação, notei uma escassez de literatura relacionando a psicopatia ao preconceito”.
“Dado o aumento da violência baseada no ódio nos últimos anos, eu quis explorar se certos traços de personalidade tradicionalmente estudados no âmbito da psicologia clínica podem ser preditivos de preconceitos e fornecer pesquisas empíricas sobre este tópico subestudo. A psicopatia é particularmente relevante para o preconceito, uma vez que as facetas do distúrbio, como a insensibilidade ou a falta de empatia, são preditivas de tendências prejudiciais”.
No estudo, 386 estudantes de graduação croatas e 378 estudantes de graduação gregos completaram avaliações de orientação de domínio social (uma medida de apoio às desigualdades de poder social e hierarquia), autoritarismo de direita, psicopatia e pontos de vista prejudiciais.
A medida de psicopatia usada no estudo, a Escala de Psicopatia Auto-Relatório-Curta (SRP-SF), divide as características de personalidade psicopática em quatro fatores: estilo interpessoal manipulador e enganoso, insensibilidade e falta de empatia, impulsividade e tendências anti-sociais evidentes.
Os pesquisadores descobriram que traços psicopáticos interpessoais e afetivos elevados estavam positivamente associados à orientação de domínio social e autoritarismo de direita, que por sua vez estavam ligados ao aumento das atitudes anti-imigrantes em relação aos refugiados do Oriente Médio e à desconfiança em relação às minorias.
“Os resultados do estudo sugerem que os traços psicopáticos, particularmente os traços calejados e enganosos, estão solidamente associados à tendência de preferir uma sociedade que mantém os grupos marginalizados baixos em status e poder e também são preditivos da propensão de usar a agressão contra os violadores das normas sociais tradicionais, ambos são preditores salientes de uma variedade de atitudes prejudiciais”, explicou Roy ao PsyPost.
Os resultados estão na linha de pesquisas anteriores da Áustria, que encontrou pessoas com características de personalidade “sombrias” – incluindo traços psicopáticos – com maior probabilidade de votar em um candidato presidencial de direita, anti-imigrante.
O novo estudo de Roy também encontrou evidências de que as tendências psicopáticas estavam diretamente ligadas a visões prejudiciais.
“Os traços psicopáticos ainda eram preditivos de preconceito em relação aos imigrantes do Oriente Médio e a desconfiança em relação às minorias depois de levar em conta essas atitudes sociais prejudiciais, indicando que traços de personalidade patológicos, como os capturados pela psicopatia, são preditivos de tendências crescentes para desvalorizar os grupos marginalizados”, disse Roy.
Traços impulsivos de estilo de vida, entretanto, foram associados a níveis mais baixos de visões prejudiciais, o que está “de acordo com conceptualizações de preconceito explícito como uma característica estável”, disseram os pesquisadores.
“Uma grande ressalva é que o estudo foi conduzido com adultos jovens, de modo que se justifica mais pesquisas em populações clinicamente elevadas em psicopatia (ou seja, infratores). Além disso, o estudo atual utilizou principalmente medidas de auto-relato tanto para a personalidade quanto para o preconceito, de modo que estudos futuros utilizando diferentes métodos de avaliação, como avaliações clínicas e tarefas de indexação de preconceitos comportamentais, podem certamente ajudar a aprofundar nossa compreensão dessas associações”, observou Roy.
“Creio que o campo da psicologia clínica reconheceu que a experiência do preconceito pode ser uma fonte de angústia substancial para aqueles afetados por ele”. Entretanto, muito pouca atenção tem sido dada por nosso campo à compreensão dos traços subjacentes daqueles predispostos a manter essas crenças negativas”, acrescentou o pesquisador.
“Além disso, poucos pesquisadores tentaram integrar nossa compreensão dos distúrbios clínicos com a literatura considerável que indica a variação individual da propensão a manter atitudes prejudiciais. Espero que este estudo e outros possam fornecer uma base de pesquisa empírica para ajudar a informar a avaliação de risco e o tratamento daqueles com perfis de personalidade predispostos a desvalorizar os grupos marginalizados”.
O estudo, “Propensões psicopáticas contribuem para a orientação do domínio social e autoritarismo de direita na previsão de atitudes prejudiciais numa grande amostra européia“, foi elaborado por Sandeep Roy, Craig S. Neumann, Daniel N. Jones, Aikaterini Gari, e Zlatko Scrram.
